Quinta Nerd: E a intolerância?

Um tema um pouco delicado de ser abordado, mas vamos lá.

Não é raro ver como brigas entre fãs de bandas, torcedores, religiosos e ateus ou mesmo países são formadas simplesmente por não respeitarem gosto e opinião alheia. E também tem aquelas pessoas que menosprezam as outras justamente por gostarem de algum desses pontos. Isso está errado! E não tem outra definição. A brincadeira e a provocação estão sim presentes e grande parte das formas de celebração, mas isso não é motivo para brigas. As pessoas tem que aprender a provocar e ser provocada sem sair da linha.

Lembra na sua quinta série, quando alguém te provocava ou te zoava? Você tinha que ficar na boa, não é mesmo? Agora lembra o que acontecia quando você provocava ou zoava ela? Ela ficava muito irritada. Esse é o ponto. Culturas diferentes geram opiniões diferentes e opiniões diferentes geram discussão. Enquanto a discussão for controlada, dentro de uma conversa saudável, está tudo ótimo. Mas e quando ela parte para a briga? Ninguém mais tem razão.

Eu gosto de discussão. As pessoas já devem ter percebido isso. Gosto de conversar, de expor minhas opiniões e ouvir a dos outros. Isso me engrandece, abre minha mente e me deixa mais livre. O meu maior erro é que eu tenho um ego intelectual muito elevado e sempre tento alimentar esse ego. As vezes as minhas discussões são apenas para provar que meu ponto de vista é o correto, e isso é errado, eu admito. Porém mesmo essas discussões são boas para me fazer entender melhor as pessoas, um desafio que todos devemos ter.

Provocações pós vitória: É errado zoar seu amigo quando seu
time ganha?

Ontem várias pessoas reclamaram dos torcedores do Corinthians comemorando a classificação para a final da Copa Libertadores. Reclamaram das postagens excessivas sobre o tema, das provocações em cima da torcida rival, das postagens sobre o orgulho corinthiano e tudo mais. Concordo que toda essa comemoração foi excessiva por grande parte da torcida e que os fogos até altas horas da madrugada em plena madrugada de quarta para quinta-feira é muito ruim para todos, mas as pessoas tem que entender que é uma resposta à zoações anteriores. Acabou atingindo outras pessoas que nem sequer gostam de futebol, e nesse momento, apenas nesse momento, acho que a comemoração foi infeliz. Mas ao mesmo tempo, grande parte dessas pessoas publicam imagens e frases excessivas e exaltação à sua religião ou alguma outra coisa que gosta e, quando recebem uma crítica, se ofendem e falam que você falta com respeito. Nesse grupo também incluo os ateus que divulgam sem parar imagens que comprovam a "superioridade" da filosofia ateísta. E o que vão dizer? Que os dois não tem nada a ver, um é esporte e o outro é religião. Discordo. Não que esporte seja comparável à religião, mas as atitudes de ambos nas ruas ou em redes sociais são tão, mas tão parecidas, que não tem como discriminar um do outro. Chegamos à palavra chave da questão: FANATISMO.

Capa do Album onde Metallica faz cover de Ramones,
mostrando que preconceito é bobeira.

O Fanatismo não ocorre apenas nesses dois casos. A música está repleta de Fanatismo tolo e preconceitos sem fundamento. Se pegarmos o exemplo do Rock, que se dividiu tão imensamente que as vezes é difícil definir o que é ou não Rock'n'Roll. Aquele rapaz que curte heavy metal, trash metal, black metal e outras músicas da tabela periódica, vê aquele rapaz que curte punk rock, hardcore, indie rock e outros nomes de tipos de pornografia, como um rapaz sem cultura, que só gosta de barulho e músicas que sequer são tocadas direito. Já pelo outro o lado, o rapaz punk vai vê o metaleiro como um cara que só quer saber de solos de guitarras, homens vestidos de mulher, estrelinhas e músicas cheias de firulas. Mas, por mais que sejam diferentes, os dois tipos de música estão dentro do que chamamos de Rock'n'Roll. Você pode não gostar de todo o Rock, mas deve respeitar o que não gosta. Exemplificando, eu não gosto de Iron Maiden ou Metallica e adoro Ramones e The Clash, mas não falo que a música deles não prestam, porque são músicas boas, só não estão dentro daquilo que gosto. Inclusive, nos especiais de dia do Rock que eu faço, não são raras as vezes em que coloco grupos que não gosto, mas entendo a importância.

Existem várias religiões. Acredite na sua e respeite as outras

Na religião o conceito Fanatismo é ainda mais intrigante. Vemos ele por todos os lados, vindo de toda e qualquer crença. Uma mulher protestante de alguma igreja tradicional é vista como atrasada pelas normas de aparência que segue. Uma pessoa católica é vista como uma pessoa que acredita em uma instituição que apoia o nazismo e não aceita os outros. Uma pessoa espirita é vista como uma pessoa leiga que acredita em fantasmas e assombrações e utiliza sua força para voltar para a a vida. O que é interessante nisso tudo? Essas três são as principais vertentes CRISTÃS que temos. Isso mesmo, todas acreditam no mesmo ponto: Jesus Cristo é o único verdadeiro salvador. Mas elas sempre vivem em pé de guerra, querendo mostrar que ela está certa e a outra errada (isso observo mais nas duas primeiras, as pessoas que conheço pertencentes ao espiritismo discutem tão bem sobre religião que chego a me sentir um bobo!). Isso isenta as outras? Não!  Os Judeus e os Cristãos sempre vivem em pé de guerra também (nesse caso, literalmente), mas ambas tiveram a mesma origem, apenas em um ponto da história tomaram rumos diferentes. Não são raras as pessoas Budistas que desejam que seja logo provado que Deus não existe. O hinduísmo acha que os outros povos são depravados e despreocupados com os deuses. O islamismo sempre é criticado por ser uma religião violenta e que subjuga a mulher. Os ateus acreditam que todos eles estão profundamente errados e que a ciência um dia responderá todas as questões e sempre se acham mais cultos do que os religiosos.

Mas que merda toda é essa?!

As religiões estão tão interligadas que querem se separar a todos custo. O ateu acha que a ciência pode explicar tudo, mas se não fossem as religiões a ciência jamais existiria. O que aprendemos nisso tudo? O errado não é você acreditar em alguma coisa, não é ter fé, não é você pensar que não existe ninguém que cuide de nós. O errado é você ter certeza absoluta do que você acredita, é você pensar que a ciência ou a religião sempre explicam tudo, é você não abrir sua mente para novas culturas, novos conhecimentos e novas opiniões. Eu passei por diversas religiões. Fui católico, protestante, tentei ser budista e ateu. O que aprendi com tudo isso? É que nenhuma delas me dava certeza absoluta. Lembro vergonhosamente de quando eu tinha meus 14 anos e era protestante do dia em que sacaneei muito um amigo meu que era budista por não fazer sentido a crença dele. Alguns anos mais tarde eu mordi minha língua quando tente buscar no budismo algumas explicações. No fim das contas sou o que sou hoje, não tenho religião, mas não critico que tem. As vezes sinto um pouco de vontade de ter a mesma certeza que eles tem, pois isso conforta um pouco o ser, mas eu tenho uma natureza questionadora muito grande e não consigo acreditar por muito tempo numa mesma coisa. Não sou melhor que eles, eu sou apenas uma pessoa com opinião diferente da deles.


O problema é que a mídia é formadora de opinião. Ela sempre vai tentar puxar sardinha para o lado dela. A guerra entre Globo e Record é um ótimo exemplo. A Globo, uma emissora puramente católica, vive divulgando qualquer deslize do Bispo Edir Macedo. Em resposta, a Record sempre tenta atacar a Globo e trazer à ela uma imagem nazista. A mídia é, por natureza, manipuladora. Ela sempre vai mostrar o que quer. Ela não mostra com frequência a luta de Sócrates contra a ditadura militar. Mostra apenas os jogos de futebol e o marketing. Isso nós já sabemos. Ela mostra o islamismo como uma religião que mata sem motivo nenhum. Mas o islamismo foi a religião que mais contribui para a ciência, principalmente na medicina e na matemática. A mídia mostra uma protestante usando sempre saia longa, cabelo comprido e ensebado como uma fanática que mata para provar que a pessoa é pecadora. A mídia sempre mostra qualquer coisa mais interessante do que a corrupção em brasília. Ela derruba o político que é contra ela. Ela constrói uma idealização da sociedade de classe alta que a classe baixa tenta alcançar, tenta consumir produtos para ser feliz como eles.

Danilo Gentili: Criticado por ter feito piada sobre Judeus
e jogadores de futebol.

E então chegamos ao humor. É correto fazer piada sobre religião, futebol, cor ou opção sexual? As pessoas não entendem que o humor é para ser engraçado, e não aceito pelos outros. O humor SEMPRE vai atingir alguém. Uma piada não é, necessariamente, a opinião do comediante. Uma piada nada mais é do que evidenciar as diferenças. Quando entendermos que, se podemos rir de piada de loira, não podemos nos ofender com piadas que nos atingem, o mundo será melhor. O cômico vai atingir alguém, e essa pessoa tem que entender que nada mais é do que uma piada. Eu aceito que façam piadas de mim e minhas características, mas aceitem que eu faça piada com você e de suas características. Quando eu faço uma piada envolvendo religião, não quer dizer que eu ache aquilo sobre religião. Eu tenho vários amigos religiosos e isso não me impede de fazer humor com religião. Isso não quer dizer que eu não respeite eles e a crença deles, pois respeito muito, e muitos desses meus amigos são pessoas que eu falaria que daria um chute na bunda de qualquer ateu quando o assunto é discussão racional e cultura. Eu respeito a todas, e apenas por respeitar a todas eu tenho o direito de fazer humor com elas, visto que a intenção é gerar risos. Porque em outros países se faz piadas sobre negros e os negros dão risada delas, mas se fazemos aqui vamos para a forca? Os outros países são melhores que nós? Os negros sofreram menos lá do que aqui? Claro que não. Mas eles tem firmeza daquilo que é, e uma piada não vai desmerecer seus ganhos, suas vitórias e sua luta, muitas vezes, mais intensa do que a das outras pessoas. Aqui mesmo, podemos ver que essa consciência finalmente está surgindo, vejo pessoas negras ou homossexual rindo de piadas e retrucando com outras piadas. É assim que deve ser, e ninguém deve se ofender. Essa é a característica do humor, ser polêmico, mexer onde a sociedade tem medo, cutucar as diferenças. Tirar isso dele é tirar a graça do humor.

Portanto não tenha certezas, tenha dúvidas. Pode acreditar em Deus, Jesus, Jeová, Alá, Bunda, Thor, Shiva, vida após a morte, que Jesus ressuscitou nas Américas para evangelizar os nativos, etc.. Mas tenha dúvidas, abra sua mente.

Somos todos diferentes. O segredo é entender isso. Nunca seremos iguais e, enquanto tentarmos dizer que somos todos iguais, haverá intolerância. Você é diferente por ser cristão, judeu, islã, hindu, budista, taoista, ateu, agnóstico, corinthiano, palmeirense, são paulino, santista, brasileiro, argentino, punk, metaleiro, loiro, negro, asiático, aborígene, heterossexual, homossexual, bissexual, etc.. Todos são diferentes, e a paz vem quando aprendermos isso e nos respeitarmos.

A culpa da violência não é do futebol, da religião, da cor ou da opção sexual. A culpa da violência é das pessoas.


"Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar"
-Carlos Drummond de Andrade


Não esqueçam de comentar, a opinião de vocês é muito importante!